segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

filosofando sobre o surf



Por necessidade, estou de repouso por motivos de saúde e, por sorte, providencia, oportunismo ou não, estou eu aqui apreciando das ondas dos mares do mundo inteiro através de um canal a cabo. Embora eu tenha plena consciência de que esta não é minha praia, eu sempre me encanto com as ondas, por que será, eu um aposentado da Marinha, gostar de ondas?!
Não sei nada da linguagem do surf, nem das regras, nem do ranking dos melhores do mundo, exceto agora pelas proezas de um brasileiro de 20 anos, grande Gabriel Medina. Então o que estou a fazer aqui envolvido por aquele poderoso azul esverdeado, tanto pequenas quanto grandes ondas? Noto alguns detalhes no comportamento daqueles valentes, homens e mulheres; a disciplina dos treinamentos, a abnegação, a prioridade que dão ao que fazem e, especialmente, a forma como vibram quando conseguem uma ótima pontuação e ressurgem dos tubos como quem venceu uma batalha. Ao ver seguidamente aquelas imagens, já que não pude produzir a mesma adrenalina, mas resolvi internalizar aquelas imagens, dando sentido a cada movimento, cada investida, cada tubo, cada respiro das ondas, não só isso mas também todo o trabalho de apoio nos jetskis e, por que não, os habilidosos fotógrafos aquáticos, a equipe de logística junto à areia e sabe Deus quem mais... Prometam que não vão rir, mas em alguns momentos da minha vida senti a onda vir sobre a minha cabeça, momento de decisão extrema, muitos caldos já levei, vi os tubos se estreitarem muitas vezes, solidão, provação, fragilidade, coragem a contragosto e até mesmo abrir mão de coisas preciosas pra mim; ondas enormes experimentei, e eu que pensava ser bom estar na crista da onda... e quer saber?... não tenho nenhum troféu em minha escrivaninha, meu lugar reservado, exceto algumas preciosas medalhas que recebi na carreira militar. Contudo, eu venci grandes ondas, busquei o tempo todo ser o melhor no que fazia, fui reconhecido como um guerreiro que sabe lutar, meus amigos leais me recebem com dignidade por conhecerem muito da minha história. Estou deixando estas palavras pela primeira vez, no ano em que serei um sexagenário; sei que você que me lê deve ter se identificado com estas ondas, as nossas ondas de cada dia e a impressão que eu tenho é que novas ondas estão para vir e será emocionante, duro sim possivelmente naquele momento mas que me fará crescer, amadurecer e celebrar, quem sabe, nas próximas décadas, aquela fantástica onda que eu não perderei por nada.

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