Por
necessidade, estou de repouso por motivos de saúde e, por sorte,
providencia, oportunismo ou não, estou eu aqui apreciando das ondas
dos mares do mundo inteiro através de um canal a cabo. Embora eu
tenha plena consciência de que esta não é minha praia, eu sempre
me encanto com as ondas, por que será, eu um aposentado da Marinha,
gostar de ondas?!
Não
sei nada da linguagem do surf, nem das regras, nem do ranking dos
melhores do mundo, exceto agora pelas proezas de um brasileiro de 20
anos, grande Gabriel Medina. Então o que estou a fazer aqui
envolvido por aquele poderoso azul esverdeado, tanto pequenas quanto
grandes ondas? Noto alguns detalhes no comportamento daqueles
valentes, homens e mulheres; a disciplina dos treinamentos, a
abnegação, a prioridade que dão ao que fazem e, especialmente, a
forma como vibram quando conseguem uma ótima pontuação e ressurgem
dos tubos como quem venceu uma batalha. Ao ver seguidamente aquelas
imagens, já que não pude produzir a mesma adrenalina, mas resolvi
internalizar aquelas imagens, dando sentido a cada movimento, cada
investida, cada tubo, cada respiro das ondas, não só isso mas
também todo o trabalho de apoio nos jetskis e, por que não, os
habilidosos fotógrafos aquáticos, a equipe de logística junto à
areia e sabe Deus quem mais... Prometam que não vão rir, mas em
alguns momentos da minha vida senti a onda vir sobre a minha cabeça,
momento de decisão extrema, muitos caldos já levei, vi os tubos se estreitarem muitas vezes, solidão, provação, fragilidade,
coragem a contragosto e até mesmo abrir mão de coisas preciosas pra
mim; ondas enormes experimentei, e eu que pensava ser bom estar na crista da onda... e quer saber?... não tenho nenhum
troféu em minha escrivaninha, meu lugar reservado, exceto algumas
preciosas medalhas que recebi na carreira militar. Contudo, eu venci
grandes ondas, busquei o tempo todo ser o melhor no que fazia, fui
reconhecido como um guerreiro que sabe lutar, meus amigos leais me
recebem com dignidade por conhecerem muito da minha história. Estou
deixando estas palavras pela primeira vez, no ano em que serei um
sexagenário; sei que você que me lê deve ter se identificado com
estas ondas, as nossas ondas de cada dia e a impressão que eu tenho
é que novas ondas estão para vir e será emocionante, duro sim
possivelmente naquele momento mas que me fará crescer, amadurecer e
celebrar, quem sabe, nas próximas décadas, aquela fantástica onda
que eu não perderei por nada.
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