sexta-feira, 6 de julho de 2012

A voz de um invisível


Eu vivia bem, de acordo com minhas posses, até que um dia, uma devastação levou minha casa. Lá viviam pessoas que faziam parte da minha vida, mas de repente não sei onde estão; muito me dói contar tudo isso mas preciso.

Hoje estou abrigado num lugar frio, sem o meu cheiro, nunca imaginei que passaria por isso, enfim, estou aqui diante de você. Sei que pela rádio e pela TV você soube do que houve, do que a imensa chuva causou na nosssa cidade. Você se apiedou de mim e me trouxe alguns donativos, coisa de primeira necessidade; você trouxe um pouco de música para os filhos que ainda tenho não sofram tanto, no que sou muito agradecido.

Mesmo assim, eu sei que você daqui a pouco vai embora, tocar a vida com todas as facilidades que Deus te deu, e o que me sobra é que ainda estou sem o meu ninho enquanto quem poderia me ajudar se enche de justificativas; não estou com aquelas pessoas que antes eram meus amigos de sinuca, futebol e conversa fora, eles também estão como eu, mais do que sem-teto, sem-justiça-social. Com certeza meu emprego está perdido pois só tenho cabeça agora para minha mulher e os filhos que ainda tenho; precisa de comida, água, roupa limpa e um lugar para um ser humano dormir.

Por favor, não quero te trazer culpa, não há culpados realmente; você fez o melhor que você pôde, quanto a mim vou reconstruir minha vida, não acredito em maldições nem quero me fazer de vítima; talvez não tenha tanto quanto você mas sei que eu posso escrever uma nova história, que talvez ninguém venha a saber, contanto que tão somente eu saiba que, por respirar, me mover e pensar, posso virar esta página da minha vida, pois sei que posso fazer isto, de esperto que sou, usarei das minhas reservas de dignidade, que não joguei fora nos bons tempos.

Não ! você não viu ainda ninguém igual a mim!

Vai com Deus!

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