Para muitas pessoas, ainda é estranho falar-se em psicoterapia para
pessoas "idosas", aquelas que já estão na "terceira
idade".
Nossa sociedade
ainda tem uma visão muito preconceituosa sobre esse tipo de ajuda para
pessoas que já passaram dos sessenta e cinco anos.
Ensinaram-nos que
a vida é composta de fases: infância, adolescência, etc., e que a fase de
construção, de "investimento" nos projetos de vida, se situa num
período que vai do nascimento até a juventude. Habituamo-nos com a seguinte
ideia: enquanto somos jovens, devemos plantar. Depois dessa época, deveremos
"colher o que se plantou". Se não tivermos plantado, no tempo
certo, não haverá muito a se recuperar, ou a se fazer, principalmente se já
passamos da marca dos sessenta.
Mergulhada numa
visão tão pessimista em relação ao futuro do idoso (definida – quase sempre -
como uma fase de declínio da vida), nossa sociedade não vê sentido em se
tratar uma pessoa idosa, que apresente problemas existenciais. Ela,
diferentemente de um jovem, não apresenta mais a força para construir,
motivação suficientemente forte para investir no tempo de vida que lhe resta.
Terapia com idosos comumente é considerada, no mínimo, como uma perda de
tempo , um investimento sem retorno, ou coisa assim.
Provavelmente,
uma das maiores dificuldades enfrentadas pela pessoa idosa, que já tem uma
história pessoal longa, é acreditar que tem condições de mudar o rumo que sua
vida tomou. Ela considera que "já é assim há muitos anos" e,
portanto, não será agora que irá conseguir mudar seu modo de pensar e agir.
Sente-se ancorada no passado, presa às suas verdades, ao "seu
destino".
Na realidade, a
terapia bem sucedida acarreta uma mudança no cliente. Mas o que vem a ser
essa tal mudança? O processo de mudança não está baseado numa subtração de
características nossas ou de sua substituição por outras, novas, mas sim num
acréscimo ao que já somos: ou através de conhecimentos novos sobre nós mesmos
e nossa realidade, ou por uma possibilidade de novo modo de perceber o nosso
mundo interno e externo. Com isso, podemos afirmar que a mudança é possível
para qualquer pessoa, de qualquer idade.
Nosso passado e
nossa experiência pessoal são nosso patrimônio mais valioso. Não temos que
nos desfazer dele, mas, pelo contrário, utilizá-lo em nosso favor.
A pessoa de idade
avançada, teoricamente, possui uma enorme bagagem e com ela poderá construir
o seu futuro ( tenha ele o tamanho que tiver- a gente nunca sabe) de uma
maneira fantasticamente positiva.
Eventualmente,
precisamos atender idosos internados em clínicas geriátricas, nas suas
residências, ou nas de parentes seus. A participação da família - quase
sempre- é de grande importância para o bom resultado da terapia,
principalmente quando se trata de pacientes muito idosos, ou fisicamente
muito comprometidos, pois, quase sempre, é nela que repousam todos os pilares
da construção de sua melhora .
Todavia,
precisamos levar em consideração que os benefícios, que uma pessoa com
limitações intelectuais ou mentais pode receber, serão , de alguma forma,
proporcionais ao nível de suas limitações. Mas, mesmo assim, todas – de algum
modo - se beneficiam.
Muitos idosos,
quanto mais idade têm, passam a viver afastados do convívio social e seu
mundo fica limitado ao lar onde residem. Nem sempre aí, na sua própria casa,
ou na casa de algum filho ou parente, mantêm contatos humanos estimulantes e
vão, pouco a pouco, se isolando. Seus desejos, suas histórias, seu modo de
pensar, etc. vão-se perdendo. Com isso, diminuem suas chances de estabelecer
relacionamentos que lhe sejam enriquecedores, interessantes, motivadores...
Principalmente quando ele, ou ela, já não tem mais o seu companheiro.
A viuvez pode
trazer, para a pessoa de idade mais avançada, um tipo de isolamento que pode
ser cruel: filhos vivendo em suas próprias casas, nem sempre próximas da casa
de seus pais. Resta-lhe, então, ligar-se a alguém da família, ou a uma pessoa
amiga, ou a uma "enfermeira", ou acompanhante, para ajudá-la a
conviver com essa nova realidade.
São momentos
difíceis para muitos idosos, principalmente para aqueles que, por
característica de personalidade, são mais reservados, ou não acostumados à
convivência com estranhos à família.
Para finalizar,
chamo atenção para um tópico que é também relevante, quando falamos na ajuda
psicológica às pessoas idosas: o "trabalho", a
"ocupação".
O idoso se
beneficia das atividades nas quais se possa envolver. Trabalho e ocupação
precisam ser compreendidos como qualquer atividade desenvolvida pelo idoso,
que possa trazer para ele algum sentido de realização pessoal: pintura,
música, literatura, escultura, cultivo de plantas, cuidados com animais de
estimação, ou um trabalho associado a alguma instituição filantrópica, ou de
tratamento. Tais atividades, entre outras, quando aceitas pelo idoso, lhe
traz um enorme benefício , sendo que o mais comum que podemos observar é o
surgimento de uma revitalização e uma valorização do idoso.
Quem já passa dos
65 não deixa de ser PESSOA e, como tal, reside nela, naturalmente, um
potencial para viver sua vida do modo mais pleno possível. A psicoterapia é
um dos meios que ajudam o idoso a encontrar, nele mesmo, esse potencial.
transcrito
|
Usando intencionalmente daquele bordão dos anos 70, ainda que sob novo olhar, não ao sabor dos ideais ingênuos, " pois ainda somos os mesmos e vivemos..." mas agora mais consciente, psicobeleza é acima de tudo, buscar e proporcionar o melhor bem- estar possível para todos nós. Bem-vindos!
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Idoso também é gente! será assim tão óbvio?
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