sábado, 8 de setembro de 2012

O Tapeceiro







Foi quando eu vi

uma rua e me senti

Com se o tempo voltasse,

canto de bem-te-vi

fez que eu nela entrasse,

doce emoção senti

quando então eu ouvi

aquele convite singelo:

Não fique aí na rua,

Cruze o portão amarelo,

Venha ver a minha arte

Que da minha vida querida,

Faz parte!

Era a voz maturada

De um sereno ancião,

Cabelos brancos brilhantes,

Pés muito firmes no chão

E entre tranças e laços

A vida o fez artesão.



Vou te mostrar minha obra!

Disse o entendido em fios,

E, sob o sol na janela

De cor marfim e canela,

Pôs então os seus tapetes

Com as cores da aquarela,

Sem espera de aplausos

Ou de muitos elogios

Cada qual de tal beleza,

Fora outros que estavam

Estendidos sobre a mesa,

Qual não foi minha surpresa

Quando então o tapeceiro

Me mostrou o outro lado

De cada obra de arte

Em que tinha trabalhado:

Um monde de nós e trançados

estavam diante de mim

mal podia acreditar

que o belo era assim!



Com um sorriso matreiro

Pôs-se a me explicar

Com voz e tom de segredos

Mostrou-me com os seus dedos

O grande esforço a fazer

Para prender cada cor

E faze-lo aparecer

Era então necessário

Nós que ainda feios

Ele se empenha e amarra

Usa todos os meios

Para que as cores se mostrem

Bordas, desenhos, recheios

Diz que é assim sua vida.

Assim ele mesmo diz:

Esta é a minha vida!

Esta é a minha arte,

Que da minha vida querida,

Faz parte!
 
 
 
Carlos A. M. Gomes

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