Num breve momento, um toque de botão e uma expectativa esfuziante: um lugar a sós num pequeno espaço, mas que, ainda por poucos momentos será somente meu. Há um aviso nos display, abre-se a porta da esperança; desencanto, frustração se apresentam diante de mim; alguém está ocupando meu precioso lugar e ainda lhe devo dar um bom dia.
Viro as costas, finjo que estou procurando algo, meus olhos estão fixos na porta, quero sair já. Quem estava lá, sei quem é, me lembro dele, ele adquiriu o apartamento no mesmo mês que eu há quinze anos atrás; não sei o seu nome e nunca me interessei de sabê-lo; o incômodo é muito grande; estamos ali em condições tão iguais, com a mesma necessidade, quem sabe preocupações e aflições tão semelhantes, mas definitivamente não queria vê-lo ali, invadindo meu lugar de solidão, ainda que por tão pouco tempo; tenho tantas preocupações, de nada posso esquecer; de que pode valer alguns segundos, de que vale um franco e singelo olhar ao menos, um sorriso ao menos, uma gentileza ao menos; ao menos vou seguir meu dia, escolhendo a solidão como minha companhia, parafraseando um atual comercial na TV, “ este é o meu clube” , o clube da solidão.
Tudo iria tão bem, não lembraria minha dor nem minha burra escolha, não fosse aquela sonora e acalorada voz na saída do elevador:
_Tenha um Bom dia, senhor!
Há algo errado, preciso saber o que está acontecendo comigo; por que me nego a ser respeitado e ser amado? Aquela voz não sai da minha mente, dentro de mim invade um tipo de inveja e aquela sensação de estar sendo abraçado, aquela voz que chegou a mim com tanta graça e oportunidade. Quem é esse cara? Preciso conhecê-lo!
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