terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A Voz de um Invisível, ( ou: Recorde Bumba!)



Eu vivia bem, de acordo com minhas posses, até que um dia, uma devastação levou minha casa. Lá viviam pessoas que faziam parte da minha vida, mas de repente não sei onde estão; muito me dói contar tudo isso mas preciso.
Hoje estou abrigado num lugar frio, sem o meu cheiro, nunca imaginei que passaria por isso, enfim, estou aqui diante de você. Sei que pela rádio e pela TV você soube do que houve, do que a imensa chuva causou na nosssa cidade. Você se apiedou de mim e me trouxe alguns donativos, coisa de primeira necessidade; você trouxe um pouco de música para os filhos que ainda tenho não sofram tanto, no que sou muito agradecido.
Mesmo assim, eu sei que você daqui a pouco vai embora, tocar a vida com todas as facilidades que Deus te deu, e o que me sobra é que ainda estou sem o meu ninho enquanto quem poderia me ajudar se  enche de justificativas; não estou com aquelas pessoas que antes eram meus amigos de sinuca, futebol e conversa fora, eles também estão como eu, mais do que sem-teto, sem-justiça-social. Com certeza meu emprego está perdido pois só tenho cabeça agora para minha mulher e os filhos que ainda tenho; precisa de comida, água, roupa limpa e um lugar para um ser humano dormir.
Por favor, não quero te trazer culpa, não há culpados realmente; você fez o melhor que você pôde, quanto a mim vou reconstruir minha vida, não acredito em maldições nem quero me fazer de vítima; talvez não tenha tanto quanto você mas sei que eu posso escrever uma nova história, que talvez ninguém venha a saber, contanto que tão somente eu saiba que, por respirar, me mover e pensar, posso virar esta página da minha vida, pois sei que posso fazer isto, de esperto que sou, usarei das minhas reservas de dignidade, que não joguei fora nos bons tempos.
Não ! você não viu ainda ninguém igual a mim!
Vá com Deus!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

voltar no tempo...





Há que se pensar um pouco sobre alguma confusão que se faz entre definição e conceito sobre este elemento plenamente entremeado à nossa realidade: tempo. Ora, definimos tempo como a sua contagem, sejam por eras, milênios, séculos, anos... dias, horas, minutos, segundos, aliás, sistema criado por nós mesmos, a partir do dia que intuímos a possibilidade de que cada dia precisaria ser contado, uma vez que o tempo determina tantas coisas para nós desde que nos damos por gente, hora de almoçar, hora de dormir, tempo de férias, tempos de estudos, tempos de calor, etc. O conceito de tempo nos remete à um histórico que começa pela melhor que conhecemos, cada um de nós pela nossa própria vida, com passado, presente, futuro, recheados por saudades e aspirações, pois o presente agora é presente e nada mais cabe senão o presente. Para o filósofo  e padre Agostinho de Hipona, tempo é conceituado por ele como algo proveniente da mente humana, pois o tempo não se guarda em nenhum outro lugar, é apenas registrado por documentos e fotos, jamais são retidos em algum cofre, o presente do passado é a lembrança e o presente do futuro é o que aspiramos, tudo é intutivo e elaborado nessa nossa máquina de pensar. Seriados de ficção como os da série The Time Tunnel, mostra a assombrosa saga de dois cientistas que  teriam se perdido num labirinto de épocas passadas e futuras, mas em todas as histórias deste seriado uma única conclusão aqueles exploradores chegaram: que jamais se poderiam mudar a história, não de poderia evitar a morte de Cristo nem a segunda Guerra mundial ou a Tomada das Bastilha, e até mesmo nas viagens futuras, com a criatividade de Irwin Allen, o iniciador do cinema catástrofe em hollyood, ele sugeria a herança humana deixada para o futuro com uma boa dose de ironia. Enfim, o que seria voltarmos no tempo? A melhor  resposta seria uma frase em latim: Carpe Dien, que quer dizer, aproveite o tempo de hoje, aproprie-se do hoje! O que complica é que hoje, muitos associam o resgate do tempo a um resgate apenas do que é prazeroso, devido ao discurso edonista, tudo “para ontem” e melhor do que seria “hoje”. Como não temos como administrar o que é passado e o futuro, devemos hoje viver para alcançar o melhor bem- estar possível, quando postergamos ou deixamos para trás o que deveríamos ter feito, teremos aquela conhecida  frustração por não ter sido melhor; então, alegre-se por pertencer ao presente, seja grato(a) ao passado, não vá com tanta pressa ao futuro, pois se tudo lá na frente for diferente, o teu relógio existencial estará sempre atualizado ao presente. Carpe Dien! Aproveite bem o dia de hoje!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O passageiro



Queria ser mais grato mas não posso,
eu só existo com o ar que eu respíro.
e como dança turca, busco em  giro,
saber que nada é meu mas tudo é nosso,

até que a minha mente se dê conta,
de toda história que a vida me apronta,
a minha alma arrebatada e tonta
vai mergulhando nesta corredeira

ao bom perfume do capim cidreira,
e  somente Deus, quem sabe queira
curtir meus versos pela  vida inteira,
que meu poema leve a noite inteira

até que um dia eu possa agradecer
com toda energia do meu ser, 
por hora só meu sentimento endosso,
queria ser mais grato mas não posso!

no fundo mesmo bom é ser finito.
mesmo um sussurro ou um forte grito
vai me fazer lembrar quem sou agora 
feliz o dia em que eu for embora.

quem me procura está bem lá fora;
deste concreto, frágil proteção
eu sei que tudo é um grande mistério
mas assim é meu novo coração.



Carlos Alberto Machado Gomes