sábado, 4 de maio de 2013

O Tapeceiro



O Tapeceiro

Foi quando eu vi
uma rua e me senti
Com se o tempo voltasse,
canto de bem-te-vi
fez que eu nela entrasse,
doce emoção senti
quando então eu ouvi
aquele convite singelo:
Não fique aí na rua,
Cruze o portão amarelo,
Venha ver a minha arte
Que da minha vida querida,
Faz parte!
Era a voz maturada
De um sereno ancião,
Cabelos brancos brilhantes,
Pés muito firmes no chão
E entre tranças e laços
A vida o fez artesão.

Vou te mostrar minha obra!
Disse o entendido em fios,
E, sob o sol na janela
De cor marfim e canela,
Pôs então os seus tapetes
Com as cores da aquarela,
Sem espera de aplausos
Ou de muitos elogios
Cada qual de tal beleza,
Fora outros que estavam
Estendidos sobre a mesa,
Qual não foi minha surpresa
Quando então o tapeceiro
Me mostrou o outro lado
De cada obra de arte
Em que tinha trabalhado:
Um monde de nós e trançados
estavam diante de mim
mal podia acreditar
que o belo era assim!

Com um sorriso matreiro
Pôs-se a me explicar
Com voz e tom de segredos
Mostrou-me com os seus dedos
O grande esforço a fazer
Para prender cada cor
E faze-lo aparecer
Era então necessário
Nós que ainda feios
Ele se empenha e amarra
Usa todos os meios
Para que as cores se mostrem
Bordas, desenhos,recheios
Diz que é assim sua vida.
Assim ele mesmo diz:
Esta é a minha vida!
Esta é a minha arte,
Que da minha vida querida,
Faz parte!

Carlos Gomes

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