Aprendendo
com as rêmoras? Estou
há um bom tempo tentando compartilhar algo com você, mas antes,
como ilustração, quero te contar algo sobre as intrépidas rêmoras.
Pois bem, pontuei 3 características deste curioso comensalista. A –
ele alimenta-se das sobras do seu hospedeiro, ou seja, não lhe causa
nenhum dano. B – ele tem no seu dorso uma membrana aderente que só
o fará se desgrudar de esta rêmora resolver nadar mais rápido que
o seu hospedeiro. C – a rêmora pode ganhar tamanho e peso que não
mais se sustenta grudada ao seu hospedeiro, em certo oceanário, uma
bióloga ajuda uma rêmora a sobreviver dando-lhe uma alimentação
exclusiva, ou seja, fora das leis naturais. Acho que ate aqui, tenho
elementos suficientes para minha ilustração.
Eu
gostaria de compartilhar com você sobre a importância do que eu
denomino despedida virtuosa.
Sei
que não entendeu nada, então vamos lá: Você tem uma significativa
afeição por uma pessoa, quer seja vizinho, colega, parente, aquela
pessoa a qual você pensa: essa vai fazer parte da minha vida, somos como irmãos ou quem sabe algo bem distinto como um amor platônico
ou mesmo ou um amor romântico resguardado, até que, de repente
perdemos o chão, aquela pessoa sai da nossa rotina de alegrias,
cumplicidades, tudo vira vapor, daí veio uma lembrança dos meus
tempos na Marinha em que vi um cação ser pescado e me impressionou
não o cação, mas a rêmora que ficou completamente desnorteada,
sem um rumo definido a prosseguir; penso que, por analogia, muitos de
nós quando nos vemos sem aquele amigo, não me refiro a um
falecimento mas a uma perda de rumo por não esperar acontecimento
tão absurdo: ele ou ela foi embora e eu não sabia como esta amizade
era importante. Muitos que me leem podem se identificar com esta
comparação.
Afinal,
o que fazer quando alguém se vai e não houve sequer um despedida?
Posso responder: das duas uma: porque não acho necessidade de
formalizar um adeus ou porque seu amigo hóspede não desejava
simplesmente ser um comensalista mas um parasita, pois como já disse
acima, as rêmoras podem perder seus hospedeiros mas não se lamenta
pois a natureza lhe deu a habilidade para sobreviver com um novo
hospedeiro, para manter sua ligação comensalista, seja este novo
hospedeiro, não necessariamente um amigo, mas algo que o motive a
continuar vivendo. Portanto não cabe aos amigos rêmoras cobrarem
que a vida lhe devolva seu primeiro hóspede, pois ele ou ela estão
em outra e viverão muito bem sem essas neuróticas rêmoras; aqueles
hospedeiros estão tocando a vida em outro espaço social, em outro
contexto cultural, quem sabe morando em outra cidade, namorou, noivou
e se casou e está muito feliz e se bobear já deve ter netos; será
que esta espera por um revival surreal aconteça não está
demasiado longa? Ou não é mais que na hora de nos despedirmos deles
com alma livre, honesta e cristalinamente, desejando a este milhões
de felicidades em sua nova vida? Para tanto, reconheça que cada um tem sua história a escrever, se necessário, reconheça que houve uma relação de dependência, ou até mesmo que tenha se apaixonado, nestas horas a humildade no seu significado mais completo tem o seu lugar, tem um poder altamente curativo, assim você estará livre para avançar na sua própria história, a esta capacidade de desencanar e abençoar é que eu chamei de despedida
virtuosa. Se for difícil, uma terapia é o melhor que recomendo.
Quanto
às rêmoras, a melhor característica que encontrei foi a letra B:
Então, amigos, bola pra frente, sem empaques na vida, pois a vida é
como o mar e o mar não engarrafa! Um imenso abraço para você!
Carlos Alberto Machado Gomes
PsicólogoClínico
Universidade Federal Fluminense