terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Despedida virtuosa




Aprendendo com as rêmoras? Estou há um bom tempo tentando compartilhar algo com você, mas antes, como ilustração, quero te contar algo sobre as intrépidas rêmoras. Pois bem, pontuei 3 características deste curioso comensalista. A – ele alimenta-se das sobras do seu hospedeiro, ou seja, não lhe causa nenhum dano. B – ele tem no seu dorso uma membrana aderente que só o fará se desgrudar de esta rêmora resolver nadar mais rápido que o seu hospedeiro. C – a rêmora pode ganhar tamanho e peso que não mais se sustenta grudada ao seu hospedeiro, em certo oceanário, uma bióloga ajuda uma rêmora a sobreviver dando-lhe uma alimentação exclusiva, ou seja, fora das leis naturais. Acho que ate aqui, tenho elementos suficientes para minha ilustração.

Eu gostaria de compartilhar com você sobre a importância do que eu denomino despedida virtuosa.

Sei que não entendeu nada, então vamos lá: Você tem uma significativa afeição por uma pessoa, quer seja vizinho, colega, parente, aquela pessoa a qual você pensa: essa vai fazer parte da minha vida, somos como irmãos ou quem sabe algo bem distinto como um amor platônico ou mesmo ou um amor romântico resguardado, até que, de repente perdemos o chão, aquela pessoa sai da nossa rotina de alegrias, cumplicidades, tudo vira vapor, daí veio uma lembrança dos meus tempos na Marinha em que vi um cação ser pescado e me impressionou não o cação, mas a rêmora que ficou completamente desnorteada, sem um rumo definido a prosseguir; penso que, por analogia, muitos de nós quando nos vemos sem aquele amigo, não me refiro a um falecimento mas a uma perda de rumo por não esperar acontecimento tão absurdo: ele ou ela foi embora e eu não sabia como esta amizade era importante. Muitos que me leem podem se identificar com esta comparação.
Afinal, o que fazer quando alguém se vai e não houve sequer um despedida? Posso responder: das duas uma: porque não acho necessidade de formalizar um adeus ou porque seu amigo hóspede não desejava simplesmente ser um comensalista mas um parasita, pois como já disse acima, as rêmoras podem perder seus hospedeiros mas não se lamenta pois a natureza lhe deu a habilidade para sobreviver com um novo hospedeiro, para manter sua ligação comensalista, seja este novo hospedeiro, não necessariamente um amigo, mas algo que o motive a continuar vivendo. Portanto não cabe aos amigos rêmoras cobrarem que a vida lhe devolva seu primeiro hóspede, pois ele ou ela estão em outra e viverão muito bem sem essas neuróticas rêmoras; aqueles hospedeiros estão tocando a vida em outro espaço social, em outro contexto cultural, quem sabe morando em outra cidade, namorou, noivou e se casou e está muito feliz e se bobear já deve ter netos; será que esta espera por um revival surreal aconteça não está demasiado longa? Ou não é mais que na hora de nos despedirmos deles com alma livre, honesta e cristalinamente, desejando a este milhões de felicidades em sua nova vida? Para tanto, reconheça que cada um tem sua história a escrever, se necessário, reconheça que houve uma relação de dependência, ou até mesmo que tenha se apaixonado, nestas horas a humildade no seu significado mais completo tem o seu lugar, tem um poder altamente curativo, assim você estará livre para avançar na sua própria história, a esta capacidade de desencanar e abençoar é que eu chamei de despedida virtuosa. Se for difícil, uma terapia é o melhor que recomendo.


Quanto às rêmoras, a melhor característica que encontrei foi a letra B: Então, amigos, bola pra frente, sem empaques na vida, pois a vida é como o mar e o mar não engarrafa! Um imenso abraço para você!
Carlos Alberto Machado Gomes
PsicólogoClínico
Universidade Federal Fluminense

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A incomensurável grandeza da solidão ( ou: aprenda a apreciar sua estrela mais próxima!)





Tive uma boa surpresa quando quando, nas minhas vivências de observação da natureza, resolvi apreciar não o nascer do sol mas o surgir do sol, o que me deu uma percepção muito diferente. Dei menos atenção à minha verticalidade e resolvi me ver de pé, preso à terra pela força de gravidade, notando aos poucos a luz que a própria terra descortinava; o céu antes escuro e denso dava agora lugar a uma forte luz que gradativamente surgia, não numa linha do horizonte, mas o brilho que surgia à medida que a própria terra se movia e nos permitia ver, agora não mais o antigo astro-rei mas uma bela estrela fantástica bem perto de nós e que nos dá vida e calor, o que aumentou minha percepção de que sou ainda menor do que eu imaginava. Neste mesmo parágrafo, agora me volto para dentro do meu próprio organismo,  e tomar como ilustração a célula sanguínea, cuja quantidade é inestimável em todo o nosso corpo. No entanto duas células podem esbarrar-se numa artéria e jamais isto vir acontecer com estas duas unidades celulares e nem por isso deixarão de ser células sanguíneas enquanto elas existirem. O que tem, afinal o meu novo sol com as células? ambos falam de uma realidade comum a todos nós, a solidão, palavra vista tantas vezes como sensação de desamparo; já não penso desta forma mas na intrigante e incomensurável grandeza da solidão.




Sem entrar no mérito teológico e sentimental, solidão é algo inerente a todos nós enquanto in-divíduos, enquanto seres autônomos e ativos. Mesmo que sejamos dependentes no nosso desenvolvimento, na primeira possibilidade nos tornamos resultado de todos os nosso envolvimentos, interações e escolhas. Acredito que viver só não chega ser de fato um problema, pelo contrário, alguns vão ter a plena certeza do que alcançarão, mesmo com as pressões culturais , os preconceitos; ganhamos o hábito de depender do aval de alguém, para que o peso da responsabilidade seja menor, mas seja como for, a solidão deveria ser vista com mais naturalidade pois no fundo, todos nós fomos liberados do cordão umbilical para justamente caminhar, conquistar e completar a saga de cada um de nós que é a aventura de existir.  Um grande abraço a todos vocês, do Carlos