quinta-feira, 24 de abril de 2014

O incômodo silêncio no elevador


Aviso no display, abre-se a porta da esperança; desencanto, frustração se apresentam diante de mim; alguém está ocupando meu precioso lugar no elevador e ainda lhe devo dar um bom dia.
      
Viro as costas, finjo que estou procurando algo, meus olhos estão fixos na porta, quero sair já. Quem estava lá, sei quem é, me lembro dele, ele adquiriu o apartamento no mesmo mês que eu há quinze anos atrás; não sei o seu nome e nunca me interessei de sabê-lo; o incômodo é muito grande; estamos ali em condições tão iguais, com a mesma necessidade, quem sabe preocupações e aflições tão semelhantes, mas definitivamente não queria vê-lo ali, invadindo meu lugar de solidão, ainda que por tão pouco tempo; tenho tantas preocupações, de nada posso esquecer; de que pode valer alguns segundos, de que vale um franco e singelo olhar ao menos, um sorriso ao menos, uma gentileza ao menos; ao menos vou seguir meu dia, escolhendo a solidão como minha companhia, parafraseando um atual comercial na TV, “ este é o meu clube” , o clube da solidão.
Tudo iria tão bem, não lembraria minha dor nem minha burra escolha, não fosse aquela sonora e acalorada voz na saída do elevador:
_Tenha um Bom  dia, senhor!
      Há algo errado, preciso saber o que está acontecendo comigo; por que me nego a ser respeitado e ser amado? Aquela voz não sai da minha mente, dentro de mim invade um tipo de inveja e aquela sensação de estar sendo abraçado, aquela voz que chegou a mim com tanta graça e oportunidade. Quem é esse cara?  Preciso conhecê-lo!

segunda-feira, 7 de abril de 2014

uma rara amizade




Sabe, gente, estou a partir desse tema, a escrever sem pieguice ou nostalgia; quando se fala em rara amizade, parece que evocamos um tempo em que "as pessoas eram mais humanas" como se hoje fossemos menos humanos, os que são próximos à minha idade sabem do que eu estou falando. 
A grande  discussão hoje, sem dúvida é sobre as relações que se coisificaram, a era do descartável, do mínimo esforço, que lança sobre os seres humanos a responsabilidade de todos os desastres institucionais, de tudo que tem caracterizado as últimas décadas, um declínio existencial, espiritual e claro, um afastamento ou isolamento dos indivíduos, alegando autoproteção, desconfiança ou insegurança generalizada.
Entretanto, raras amizades existem, são aquelas que são completamente inesperadas, realmente imprevisíveis de acontecer, na verdade nem se acha uma explicação racional para que esta amizade se sustente, amigos que nem podem se ver, não participam mutualmente da vida social, exceto em raros encontros, e quando se encontram , a sensação clara é que aquela será a ultima vez que se verão, há sempre uma celebração do encontro entre eles, uma troca de afeto, uma confiança mútua e um respeito ao outro algo tão almejado e cultivados pelas relações normais de amizade, ou seja, aquelas em que tem em comum sua rotina e seu universo de idéias e projetos.
Não foi difícil concluir que, na verdade, precisamos tanto uns dos outros que, acalentamos um sentimento de uma total entrega de alma, mesmo que consciente de que não se pode ter expectativas de que seu afeto seja sempre reconhecido como nas relações vistas como naturais, algo que eu chamaria de atenção incondicional, uma expressão que fariam muitos torcerem o nariz expressando incredulidade, afinal, é corrente que tudo precisa ser barganhado, implora-se amor, implora-se respeito, quanto sofrimento envolve amar quantas vezes; mas quando amar é simplesmente doação, é com certeza uma rara amizade, que pode haver em qualquer parte do mundo e em qualquer distância, pois o que inspira esta amizade é o único fato de que este outro veio a existir. 
Logicamente eu não teria inspiração suficiente sem experimentar esta amizade rara, mas tenham certeza, o mundo tem mudado mas nós também vamos mudando, encontrando novas saídas para poder lidar com as transformações que nos vem a cada dia; não esqueçamos que somos a única espécie vida na terra que ama. Sim, no século XXI ainda se ama! 




















quinta-feira, 3 de abril de 2014

Psicologia e fé.

Tenho  sempre como marca constante no meu blog que não tenho à priori, apresentar um blog acadêmico ou preso a alguma abordagem psicológica, mas sempre procurar dar uma linguagem simples e objetiva naquilo que desejo expressar e compartilhar. Antes de René Descartes com seu conhecido pensamento “cogito ergo sum” (penso, logo existo), foi  o que começou a tratar da relação mente-corpo. Até antes dele, a  fé, em especial a fé cristã, era exercida pelos seus fiéis, em caráter religioso, atribuindo aos mensageiros e representantes de Deus para dar definições a tudo no universo, sem que houvesse ainda naquela época um conhecimento que pudesse por à prova tudo que pudesse fazer parte de um conjunto de crenças, conhecimento que denominamos hoje conhecimento científico. Até a primeira metade do século XIX, a Psicologia ainda tinha por seus arautos, como John Loke, o que comparava nossa existência a uma tabula rasa em que escrevíamos nossa própria história. Nota-se então que as questões da fé eram ainda muito associados a confirmações psicológicas ou emocionais como entendemos hoje, inclusive, ainda muitas religiões no mundo tem sua fé associada aos sentimentos, à cultura de uma região do globo, até mesmo por razões políticas a fé religiosa se estabeleceu, como no caso do Imperador romano Constantino que, segundo alguns autores teria se convertido ao Cristianismo e outros achem isso controverso devido ao interesse do mesmo pela unificação do seu império frente ao avanço desta religião.



O mais impressionante neste processo, de se pensar e definir-se razão e emoção, é possível que este antigo conceito de fé hoje dê  lugar a uma fé sobrenatural, ou seja, sem necessariamente ser confirmada pelas emoções ou pelo sentimentalismo, mas uma confiança serena de um ser superior que está além de um universo físico, uma intervenção divina que não vê em nada o caos ou a desordem, ou seja, acima do que estabelecemos como desígnio divino mas que na verdade, depende de elementos do sistema religioso para se sustentarem, uma fé íntima, intransferível e singular, desatrelada de todo sistema religioso, como retifica convictamente o Apóstolo Paulo em suas cartas, componentes da Bíblia Sagrada.


Por esta razão é importante que haja uma compreensão da fé em cada ser humano, cada um com seus símbolos e suas referências, mesmo que sujeitos a dogmas e preceitos religiosos, possam ter, de forma espontânea, a felicidade de reconhecer a razão pela qual veio ao mundo e consequentemente que caminho deve seguir, e desta forma ser aceito e reconhecido a legitimidade da sua fé,  tal como se interpreta na teologia cristã, a obra do Espírito santo que é totalmente individual e que faz com que cada indivíduo veja além dos sistemas que governam nosso cotidiano, este Ser Superior que sempre estará acima de todos os reinos e governos, o que leva cada indivíduo a viver bem consigo mesmo  e com o seu semelhante, meu modesto olhar.