Luto, Saudade e Neurose, é interessante
a sutil correlação destes três elementos do comportamento humano.
Há na questão do luto duas condições
nas quais ele se evidencia, através de uma grande perda, em especial de um ente
querido, seguido por outras perdas bem significativas como Também o luto
patológico que não se processa naturalmente, pois este coloca seu possuidor
numa eterna dívida com o passado, coisas como intrigas, pactos familiares etc
Segundo os poetas, a saudade é uma
dor que só se mata com o reencontro e olha que clinicamente eles estão certos. Ainda que haja uma saudade “eterna”, ela por si só é consoladora, pois aquele ente querido é bem visto e sentido como
um só em toda existência, incomparável, insubstituível, a ninguém pode comparar
e isso é consolador; já a saudade que pode ser resgatada no reencontro é
acalentada e a dor da espera se mantém até que aquilo que é acalentado se torne
realidade.
A saudade como anseio de estar junto,
seria então uma saudade travestida de elementos associados à neurose, não
aquele sentimento acalentador mas sim o que inquieta, desassossega, é acumulativa
na sua ação, a suposta saudade se evidencia na negação desse desconforto. Para
Jacques Lacan, os recursos substitutivos que se desenvolvem na nossa psique tanto
podem ser legítimos e naturais no desenvolvimento humano como podem também
estes recursos ter proveniência e movimentos do ego, ou seja, negar a pulsão
natural da fuga da realidade, de forma que surge a vontade de ter novamente o
que nunca lhe pertenceu e ganha então o rótulo de saudade.
Então é possível concluir sem
presunção de fechar questão sobre isso, que, se toda saudade me trás alento, é
uma ótima saudade mas se trás inquietação, desvia dos relacionamentos saudáveis,
angustia ou entrava nas escolhas e decisões na vida, se não vincula a alguém de
forma consoladora e que promova a serenidade, deve-se suspeitar dessa saudade e
chamá-la pelos seus verdadeiros nomes, cabendo a cada um a coragem de revelar a si mesmo.
Na psicoterapia, pode-se alcançar o
re-encontro e o melhor conhecimento de si mesmo, pois estes elementos acima
citados são sutilmente semelhantes, cabendo ao trabalho do terapeuta, ensejar
ao paciente ou cliente uma grande ferramenta de ajuda para tocar a vida, sem
falsas saudades.
Carlos Alberto Machado Gomes
Psicólogo Clínico e Gerontólogo
Universidade Federal Fluminense
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