É impossível que isto que isto esteja acontecendo apenas comigo, mas aqui vai uma boa notícia: estamos de parabéns! Explico: Se você quiser saber três fatos interessantes que ocorreram na semana passada, haverá um esforço enorme para recordar pois desde que levantamos, nos automatizamos escravos de coisas que nós mesmos criamos, coisas como despertador, agenda, um rádio para ouvir sobre as condições do tempo e das estradas, e daí em diante todos os nossos movimentos, parafraseando o conhecido personagem cômico Chapolim, "são friamente calculados", mas na verdade somos condicionados a uma rotina, hoje que é até tema para discussão, se é uma coisa boa ou ruim, enfim, passa-se um dia, uma semana, meses e até anos passam despercebidos por conta dessas nossas traquitanas tecnológicas, que deveriam estar a nosso serviço...
Para aqueles que passam o tempo subjugados à sua agenda (nada contra ser organizado), é mais fácil deixar-se levar por seus compromissos e até mesmo afazeres extras, como mais tempo no local de trabalho, mais tempo num bar, mais tempo na internet, e assim, vem o alívio ao notar que aquele dia já se foi, apesar de não ter sido suficiente para se fazer o que desejava.
Tentei achar uma figura para representar em gráfico como tudo tem-se acelerado, na tecnologia, na economia, nos acontecimentos do mundo, tudo como que correndo numa pressa vertiginosa; daí a grande dificuldade que temos de perceber estas mudanças se não estivermos atentos.
Então vem a pergunta: como eu tão sujeito e suscetível a estas mudanças, posso reconhecer essa dor de existir?Wilhelm Wundt, grande pesquisador da segunda metade do Século XIX, um dos maiores incentivadores do reconhecimento da Psicologia pela ciência, ele privilegiava a capacidade visual para a percepção do mundo que nos cerca, sendo que por algum tempo, até a Gestalt-terapia, pelas pesquisas de Fritz e Laura Perls, mostraram que essa percepção não é uma ação intrisecamente física mas também baseadas na visão do homem e do mundo, através da doutrina holística, na fenomenologia e existencialismo, ou seja, nosso mundo não é apenas o que vemos por nossas retinas, mas o que simboliza aquilo que vemos.
Por isso não se sinta estranho por notar as mudanças à sua volta, pois somos atravessados intensamente por símbolos, tradições, ritos, modelos, conceitos, preconceitos, estranhamentos, e isso torna cada um de nós pessoas normais. Os que afirmam estar harmonizados com nosso mundo, são os que se disciplinam para se conhecerem e assim lidar melhor com o mundo e as pessoas, sejam religiosos, vanguardistas de um novo comportamento, misticos em geral.
É comum uma pessoa iniciar um processo de psicoterapia e proteger-se falando bem sobre si mesmo, do quanto sua família é espetacular, de quanto seus amigos são especiais, mas gradativamente, com ajuda terapêutica ele passa a dar conta de que ele não é tudo aquilo, ele é uma pessoa normal, que sua família é uma família normal e seu mundo não se consertará porque não há o que consertar, pois da mesma forma como nosso corpo, é inadmissível que alguém deseje crescer proporcionalmente, seríamos grande bebês e nosso peso normal seria talvez uns duzentos quilos, em nada mudaríamos e nossas cidades deveriam se adaptadas a uma população de bebês.
Sim, o mundo se transforma a cada dia assim cono nosso corpo, por isso, ao acordar, não tenha pressa, respire fundo, alongue-se, sinta seu corpo,seus sentidos, decrete a si mesmo um ótimo dia e seja proativo, faça um filtro de tudo que você ouve e vê, tire os melhores proveitos, pois é melhor que reconheças as esquisitices que nos cercam do que negar a sua realidade e viver debaixo de alienação e anestesia existencial, caindo muitas vezes no descaso com o coletivo. Lembre-se de que, quem vai ao médico, não inventa uma dor mas descreve seu desconforto, reconhece seu sofrimento e assim, recebe o apoio terapêutico que não é apenas a prescrição de uma medicação, mas a palavra de quem "sabe" sobre seu corpo e sua saúde, e isso é um dos pilares da formação do psicoterapeuta, nossos psicólogos clínicos.
Carlos Gomes